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Ocupar e transformar ou transformar ao ocupar?


(fonte:saopauloantiga.com.br)



(acervo pessoal)


Um palacete, construído em 1910, recebe o nome da filha do proprietário, Tereza Toledo Lara, que tinha só sete anos de idade na época de sua construção. Para a empreitada, um grande arquiteto foi chamado, Augusto Fried, que cuidou de todos os detalhes da construção de inspiração europeia: da fachada aos ladrilhos hidráulicos, dos vitrais coloridos a um elevador pantográfico!
Um belíssimo palacete de sua época e que, no entanto, nunca foi utilizado como moradia. 



(acervo pessoal)



O palacete, de início, abrigou diversos escritórios no andar térreo e, na década de 1930, passou a ser a sede da Rádio Record e de uma grande loja de instrumentos musicais, no andar superior. Tombado pelo patrimônio histórico, manteve seus traços originais e, ao contrário da estética decadente de muitas construções do início do século XX, no centro da cidade de São Paulo, teve sua fachada preservada enquanto que seu uso foi revitalizado. 
O palacete é onde hoje funciona a Casa de Francisca, um lugar onde acontecem shows, apresentações e happy hours, com a possibilidade de comer algumas delícias por lá. 
Além de ser um programa divertido em si mesmo, é também a possibilidade de pensar a questão da ocupação dos espaços do centro, equacionando aquilo que precisa ser preservado do que pode receber novos usos e funções, que dialoguem melhor com os novos tempos e as novas necessidades. 
É, assim, um modo de trazer as pessoas para o encontro e convívio no centro da cidade. Ao chegar para um show à noite, por exemplo, precisamos descer na Praça da Sé e caminhar um pouco pelo calçadão da Rua Direita, o que poderia ser considerado um trajeto perigoso, mas, com o aumento do fluxo e da ocupação desse espaço/trajeto, pode deixar de sê-lo. 
A ideia de caminhar pelo centro da cidade, ouvir suas músicas, ver as diversas formas de ali se divertir, todas próximas umas das outras, encontrar pessoas circulando e pessoas que ali moram, é um modo de construir outra relação com a cidade. Esta, ganha uma nova identidade, ganha rostos e paisagens mais afetivas e, assim, se distancia da narrativa do espaço perigoso. 
A cidade se mostra em seu contexto histórico também, pois, ao entrar em um palacete de 1910, é possível remeter-se a esta época, ao mesmo tempo em que contamos com o conforto e a acústica do século XXI! Temos, então, o privilégio de encontrar uma atmosfera especial, onde muitas camadas de tempo se sobrepõem em um mesmo lugar.

 (acervo pessoal)

                                                             (acervo pessoal)

A cidade se aproxima da maneira mais literal, na medida em que passamos a frequentá-la, ocupá-la e andar por suas ruas. Cores, cheiros, sons e sensações.
Ocupar transforma. Traz proximidade. 
E que a gente possa, cada vez mais, explorar todas as possibilidades da nossa cidade e se sentir parte, fazer parte, estar na cidade. Cidade inteira por inteiro.  

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