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A cidade e o carnaval





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Se existe uma época do ano em que a cidade, literalmente, se transforma, esta época é carnaval. As ruas dão lugar a um mar de gente que dança e canta trasvestido de outro. As identidades convencionais se diluem nas máscaras e nas fantasias, a paisagem sonora é pura música e o tom é o da alegria.
No carnaval é como se todos voltássemos a ser crianças e, não por acaso, muitos se utilizam da expressão "brincar o carnaval". Trata-se de uma fenda no espaço e no tempo onde as convenções sociais são temporariamente deixadas de lado para que a festa possa acontecer.
O pensador russo Mihkail Bakhtin criou o conceito de carnavalização aplicado à linguagem para descrever um tipo de acontecimento linguístico em que as barreiras hierárquicas são derrubadas e o que vale é o espetáculo do extravasamento: um mundo às avessas onde é possível experimentar outros gestos e outras identidades.
Na prática de quem vive o dia a dia urbano, saem os carros e as buzinas; as andanças para lá e para cá cheias de finalidades. Saem também as roupas formais, a pressa e o horário cronológico. É chegado o momento de compartilhar a alegria dessa grande festa popular brasileira, que remonta à antiguidade, estando presente  desde a Mesopotâmia até a Grécia e Roma antigas, com significados bastante semelhantes: celebrar os prazeres da vida e subverter os papéis sociais, ode a Baco e a Dionísio, os deuses do vinho e dos prazeres da carne.
Vale lembrar, no entanto, que algo é considerado festa e brincadeira quanto todas as partes se divertem. Ou seja, brincar o carnaval deve ser um ato consensual, sempre!
As ruas da cidade tornam-se palco para toda essa festa e, assim, por três ou quatro dias, aqueles que desejam vivem esse estado de suspensão.
Porém, há também quem, mesmo diante da possibilidade de festejar, prefira aproveitar o silêncio e a tranquilidade desses dias de feriado. Para esses, com certeza a cidade reserva algum lugar contemplativo, longe da agitação das ruas e de seus corpos vibrantes. Ler um bom livro literário no carnaval, como nos lembra Bakhtin, não deixa de ser um ato carnavalesco... É que na literatura como nas outras linguagens artísticas, também temos a possibilidade de adentrar em uma fenda no tempo e no espaço que nos permite ser outro.
Sendo assim, neste carnaval, as possibilidades de carnavalizar são muitas e com certeza a cidade, com toda sua imensidão, terá um lugar para acolher aos mais distintos desejos.

Para curtir na rua: escolha um bloco que combine com você, vista uma fantasia e caia na folia! E lembre-se, jogue o lixo, no lixo!
Acesse: http://estaticog1.globo.com/2018/12/18/planilha_carnaval.pdf








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